O protesto contra prisões em manifestações no Rio, na noite desta quarta-feira (25), no Centro, foi marcado por novas detenções e pelo diálogo com um promotor, que antecipou a ativistas o pedido do fim da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo (Ceiv) — confirmado pelo Ministério Público (MP) à noite. Mais de dez pessoas foram detidas por esconder o rosto. Dentre elas, Eron Moraes Melo, que estava fantasiado de Batman e foi levado à delegacia após se recusar a tirar o disfarce. Às 20h30, ele voltou à manifestação, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), sem a máscara, mas voltou a colocá-la, até a manifestação ser dispersada, por volta das 21h.
Segundo ele, os policiais o levaram a delegacia, sem violência. Ele fez um registro de ocorrência e se comprometeu a voltar para prestar esclarecimentos. Antes, ao ser levado para o camburão da PM, ele havia dito não ser contra a instituição Polícia Militar, mas sim contra "um ditador chamado Sérgio Cabral".
Marfan pede fim da Ceiv
Máscaras chegaram a ser distribuídas por ativistas durante o ato, que criticava também a lei que permite detenções de mascarados em protestos. Pouco antes da primeira detenção, o promotor de Justiça Paulo Wunder Alencar informou a manifestantes que o Ministério Público (MP-RJ) havia pedido a extinção da Ceiv, por considerar que o papel dela "já foi cumprido". Por volta das 20h30, o MP enviou nota ao G1, informando que o procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira, encaminhou ofício ao governador Sérgio Cabral propondo a revogação do Decreto nº 44.305, que instituiu a Ceiv.
No documento, Marfan destacou que, após dois meses de trabalho conjunto, a comissão alcançou bons resultados e cumpriu seus objetivos. O governo do Rio já comunicou ao MPRJ que concorda com a extinção da CEIV e revogará o decreto.
Por volta de 19h, no entanto, policiais dispararam choques com a arma taser e provocaram a ira de manifestantes, que tiraram satisfações com os agentes. Em grupo, os ativistas vestiram máscaras e deixaram o clima tenso novamente. Pouco depois, os manifestantes queimaram a Constituição de 1988. "Essa constituição é queimadas todos os dias", disse um deles enquanto ateava fogo.
Conversa com o MP
Os manifestantes haviam pedido, por volta de 18h, que o subprocurador de Direitos Humanos Ertulei Laureano Matos descesse do prédio para dialogar. Paulo Wunder desceu representando Ertulei. O grupo pediu que Wunder entregasse um documento assinado pelo MP se posicionando sobre três assuntos: presos nas manifestações, a extinção da Ceiv e a mudança na legislação que proíbe o uso das máscaras.
"Não há presos políticos, há dois presos. As manifestações relacionadas a estes presos são dadas nos processos destes presos e esses processos são públicos", disse Wunder a um dos integrantes do protesto.
Alunos também protestam
Mais cedo, por volta das 15h, alunos da Universidade da Gama Filho também fizeram um protesto no Centro. Com cartazes, o grupo questionava "MP, vai deixar a UFG acabar?". A instituição, pertencente ao Grupo Galileo, está com as aulas suspensas desde agosto deste ano.
O ato teve início em frente ao prédio do Ministério Público, onde os alunos cantaram o Hino Nacional. Em seguida, os jovens pararam em frente ao antigo prédio do curso de Medicina da universidade, de onde seguiram pelas ruas do Centro do Rio, interditando vias e caminhando em direção ao Ministério Público Federal.
Alunos contestam problemas estruturais
O presidente do Centro Acadêmico, Edivaldo Guimarães Júnior afirmou que a causa do protesto são problemas estruturais da universidade, que vão além do atraso do pagamento do salário dos professores.
“A mensalidade aumentou, professores das nossas principais disciplinas práticas foram demitidos, e o convênio com a Santa Casa foi desfeito, sendo substituído por outro convênio que não atinge nossas necessidades e expectativas. Vale lembrar que a Gama Filho é a maior escola de medicina do Brasil, e não conseguimos, até agora, um posicionamento do MEC que nos defenda e resguarde”.
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