O presidenciável Eduardo Campos, do PSB, começou a dar neste início
de ano uma finta em seu amigo e concorrente direto Aécio Neves, do PSDB.
Para surpresa do adversário pré-candidato, o governador de Pernambuco
formalizou no dia 3 a entrada de dois tucanos em sua administração, após
ter reafirmado, na Paraíba, seu desejo de manter ali a aliança entre os
dois partidos.
Com os gestos simples, Campos sinalizou que sua candidatura está de
portas abertas para receber tucanos de todas as plumagens, em nome da
ampliação de suas chances na disputa eleitoral e, em caso de vitória, da
boa governabilidade. Sua palavra de ordem, expressada ao lado do
ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, na posse de seus novos secretários é
"paz na política".
Herdeiro direto e dileto de Miguel Arraes (1916-2005), um dos maiores
mitos da política brasileira, Campos vai mostrando que carrega do avô o
talento para a matreirice na atividade. Mantendo-se nos últimos meses
muito próximo a Aécio, com quem costuma trocar telefonemas diários e se
deixa ser visto em jantares em locais públicos, Campos está, na prática,
instalando focos de incêndio dentro do partido presidido pelo senador
mineiro.
Para São Paulo, Estado mais estratégico para o PSDB, ao lado de Minas
Gerais, o presidenciável socialista já deixa correr a versão de que não
poderá apoiar a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin
em razão de uma imposição de sua correligionária Marina Silva, do
grupamento Rede Sustentabilidade.
Ao mesmo tempo, Campos igualmente saboreia as versões que já dão como
certa a presença da própria Marina em sua chapa, na condição de
candidata a vice. A ser consumado, será, sem dúvida, uma jogada de
mestre, com forte potencial de mexer, para cima, em seus números nas
próximas pesquisas eleitorais.
ULTRAPASSAGEM DUPLA - Atrás de Marina e de Aécio nos
levantamentos de opinião, Campos vai criando a chance real de
ultrapassar o primeiro e anular a segunda, atraindo-a não apenas para o
seu partido, como já aconteceu, mas para estar ao lado dele dentro das
urnas eletrônicas de outubro. Uma dupla missão – a de passar de uma só
vez seus dois mais próximos adversários -- quase impossível de ser
completada, mas que efetivamente ele vai realizando.
O chefe do PSB avisou ao longo do ano passado que só falaria em
candidatura a partir deste 2014. Com efeito, Campos criou o primeiro
fato político do ano ao dar dois cargos a políticos do PSDB em sua
administração: a secretaria do Trabalho e o Detran. Por esse pouco, já
vai recebendo muito em troca, na forma de todas as especulações que vão
sendo feitas a respeito do resultado da manobra.
O governador pernambucano, com razão, dá de ombros para os colunistas
da mídia tradicional e familiar que o criticam por estar praticando "a
velha política" e que, por isso mesmo, não pode ser chamado de artífice
de nada novo. Em resposta a estes críticos, ele devolve com um troco que
aponta para a precipitação deles.
"O País tem clareza que é preciso superar a celebração da
mediocridade e celebrar o diálogo, a capacidade de enxergar ao longe",
adiantou-se Campos em seu mais recente discurso, na semana passada. Ele
sabe que, com Marina, queira-se ou não ele vai carregar a marca do novo,
e até mesmo porque seu nome ainda não é fortemente conhecido além do
Nordeste. E com suas jogadas de bastidores, procura dividir as bases de
um adversário forte como Aécio sem bater de frente com ele. Coisa de
profissional.
PE/247
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