A vereadora do Recife Marília Arraes (PSB) anunciou que vai retirar
sua pré-candidatura à Câmara Federal nas eleições de outubro. Prima do
ex-governador de Pernambuco e presidenciável pelo PSB, Eduardo Campos, a
socialista afirmou estar "insatisfeita" com os processos internos de
escolha de pré-candidatos socialistas, a exemplo da indicação do
ex-secretário da Fazenda Paulo Câmara para disputar o Governo de
Pernambuco, e criticou a aliança de Campos com o senador Jarbas
Vasconcelos (PMDB). Nessa semana, a polêmica nas eleições para a
diretoria da Juventude Socialista Brasileira (JSB) envolvendo João
Campos, filho do ex-chefe do Executivo pernambucano, "foi a gota d'água"
para Marília desistir do pleito. Segundo ela, a sua legenda tem pensado
"no poder pelo poder".
Em entrevista coletiva, nesta sexta-feira (06), a peessebista afirmou
que todas as decisões eleitorais estavam sendo tomadas apenas pela alta
cúpula do PSB, da qual Campos, como presidente nacional da legenda, faz
parte. "Hoje em dia, o PSB está formando chapa mais por razões
eleitorais que por convicção ideológica. Há algum tempo eu percebo que
os conceitos e os ideais do PSB não estão sendo colocados em prática
pela sua cúpula", declarou a socialista. "Isso se reflete em todo o
partido. As minhas observações apontam que o movimento interno do PSB é
oposto ao da democracia que tanto pregamos. Existe uma tendência para
uma imposição de ideias em lugar de diálogo", acrescentou.
A vereadora criticou também a forma como o ex-secretário Paulo Câmara
foi escolhido como cabeça de chapa do PSB para disputar o Palácio do
Campo das Princesas, afirmando que o pré-candidato "é uma pessoa ótima",
mas que muitos socialistas "não haviam participado do processo de
escolha". Outro motivo de divergência entre Marília e o PSB é a aliança
com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), inimigo político histórico
da sigla socialista, que se reaproximou de Campos em 2012. O parlamentar
estaria pleiteando uma vaga na Câmara Federal, mesmo posto almejado por
Marília. "Eu não vou ajudar [Jarbas]", disse Marília, em referência aos
votos que poderiam ser redistribuídos para o peemedebista caso Marília
alcançasse uma votação expressiva.
A parlamentar comentou sobre a eleição da JSB, e voltou a afirmar que
havia algo errado no processo. "Existia sim algo fora de ordem, já que
poucos dias depois houve o recuo da imposição que denunciamos no
Facebook e o processo voltou a correr livre como deveria ter sido desde o
princípio. Para mim, esse episódio foi a gota d'água para fazer o copo
transbordar. Essa história na JSB não é um fato isolado. Ele está dentro
de um contexto muito maior. E que todos nós do Estado vimos percebendo
nos últimos tempos", criticou.
A prima de Campos afirmou ainda que as articulações políticas do PSB
são um reflexo de que a sigla tem pensado no "poder pelo poder". Apesar
das críticas contra a legenda, Marília evitou falar de Campos,
declarando ainda que as relações familiares estão mantidas e que as
divergências são apenas políticas. Apesar dos motivos destacados por
Marília, nos bastidores, a informação é de que a socialista estaria
saindo porque não conseguiu o apoio mínimo para disputar uma vaga na
Câmara dos Deputados.
Na última terça-feira (3), Marília escreveu uma carta aberta contra o
processo de eleição do JSB no Facebook. Segundo ela, o processo estaria
sendo "comprometido", devido à uma "articulação para que outro jovem,
sem envolvimento na juventude partidária, assuma o posto de Secretário
Estadual da JSB-PE, por meio do qual terá assento na Executiva Estadual
do PSB", em uma crítica velada a João Campos.
Diante da polêmica, o filho de Eduardo Campos disse, por meio de
nota, que não disputará mais o cargo, porque a sua prioridade é concluir
o curso de Engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Segundo ele, qualquer passo neste sentido somente acontecerá quando ele
se sentir "pronto". O jovem negou, também, haver interferências no
processo de escolha democracia interna. "Ser filho e bisneto de quem sou
me orgulha muito, mas não é o suficiente para, neste momento, me fazer
candidato", afirmou.
(PE/247).
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